quarta-feira, 19 de março de 2014

Trabalhos em Tensão (TET)

     Olá caros leitores!

   Hoje irei dar-vos a conhecer uma temática com a qual tive a oportunidade de contactar na minha primeira semana de estágio que consistiu na realização de trabalhos em instalações elétricas em tensão. O conceito de trabalhos em tensão (TET) pode ser definido como:

  " Trabalhos em que o trabalhador entra em contacto com peças em tensão ou entra na zona de trabalho em tensão com partes do corpo ou com ferramentas, equipamentos ou dispositivos que manipule." 1

   Torna-se necessário esclarecer alguns conceitos básicos referentes a esta temática, de forma a promover uma melhor perceção/compreensão em relação à mesma. Assim sendo, irei definir alguns conceitos importantes tais como:
Tensão Elétrica - Diferença de potencial elétrico entre dois pontos, a sua unidade de medida no Sistema Internacional de Unidades é o Volt (V). Todas as instalações e equipamentos, qualquer que seja o fim a que se destinem, são classificados em função da mais elevada das tensões nominais existentes: entre quaisquer dois dos seus condutores (ou peças condutoras), entre qualquer um dos condutores (ou peças condutoras) e a terra;


Figura 1 - Níveis de Tensão Elétrica
Zona de Trabalhos em Tensão - Espaço em volta das peças em tensão, no qual o nível de isolamento destinado a evitar o perigo elétrico não é garantido se nele se entra sem serem tomadas medidas de proteção;
Trabalho na Vizinhança de Tensão - Trabalho em que o trabalhador entra com parte do seu corpo, com uma ferramenta ou com qualquer outro objeto que manipule, dentro da zona de vizinhança (espaço delimitado e situado em volta da zona de trabalhos em tensão), mas sem entrar na Zona de Trabalhos em Tensão;
Distância Mínima de Aproximação (D) - Distância mínima no ar, medida em relação a peças condutoras (condutor ativo ou qualquer estrutura condutora) cujo potencial seja diferente do potencial do trabalhador, considerado como estando ao potencial da terra, e que é resultado da soma da distância de tensão e da distância de guarda; 
Distância de Tensão (DT) - Distância no ar, destinada a proteger os trabalhadores contra disrupções que possam ocorrer durante os Trabalhos em Tensão;


DT= 0,005 Un, em metros, em que Un é o valor da tensão nominal em KV.

Se o trabalhador se encontra a um potencial diferente do da terra, esta distância deve ser modificada em conformidade. Em particular em Alta Tensão, deve ser aumentada quando for necessário ter em conta fenómenos de sobretensão. Este aumento será definido de acordo com a entidade que explora a instalação.
Distância de Guarda (DG) - Distância no ar, destinada a libertar o trabalhador da preocupação permanente de manter a distância de tensão e da atenção aos gestos involuntários;
Distância de Vizinhança (DV) - Distância no ar que define o limite exterior da zona de vizinhança, sendo estabelecida em função da tensão;

Figura 2 - Distâncias para os valores nominais de tensão mais frequentes
Contacto Elétrico Direto - Contacto com as partes ativas, ou seja sob tensão, de uma instalação elétrica;
Contacto Elétrico Indireto - Contacto com estruturas ou elementos de uma instalação elétrica que se encontram acidentalmente sob tensão;
. Perigo Elétrico - Fonte de possíveis danos corporais ou prejuízos para a saúde devido à presença de energia elétrica numa instalação elétrica;
. Risco Elétrico - Associação da probabilidade com o grau de possíveis danos corporais ou prejuízos para a saúde de uma pessoa exposta a um perigo elétrico. 1

     A continuidade de serviço no fornecimento de energia elétrica é nos dias de hoje um dos fatores de maior importância para os consumidores e para os distribuidores de energia elétrica, pelo que se procura cada vez mais aplicar e desenvolver técnicas e materiais para trabalhos em tensão (TET), minimizando o impacto das intervenções nas redes elétricas, de transporte e de distribuição. Dado que as técnicas utilizadas permitem na maioria das situações evitar interrupções no fornecimento de energia, existe um crescente aumento do número de trabalhos e diversidade dos mesmos. Neste contexto, surgem as intervenções efetuadas nas redes de distribuição em Alta Tensão (AT), Média Tensão (MT), ou em Baixa Tensão (BT), sem retirar as infra-estruturas de exploração, isto é, realizando uma intervenção em que o trabalhador opera com equipamentos em tensão – TET. 2  A solicitação de trabalhos em tensão (TET) poderá ocorrer devido a razões de exploração ou de utilização, às caraterísticas das operações a realizar que impossibilitem a colocação fora de tensão ou à natureza do trabalho que implique obrigatoriamente a presença de tensão. 
    Existem métodos específicos para a realização de trabalhos em tensão (TET), descritos nas normas CEI 60 743 e EN 50 110, que têm em conta alguns fatores entre eles a posição do trabalhador em relação às peças em tensão e os meios utilizados para a prevenção dos riscos elétricos. Estes métodos classificam-se em: 
Figura 3 - Métodos utilizados na realização de Trabalhos em Tensão (TET)
    Seguidamente, apresento algumas fotografias e um pequeno vídeo de um trabalho realizado em tensão (TET) que pude acompanhar que consistiu na colocação de protetores isolantes "Avifauna" em linhas de Média Tensão (MT), no âmbito do protocolo estabelecido entre a EDP Distribuição, o ICN, a Quercus e a SPEA, tendo como missão a diminuição dos índices de mortalidade das populações de aves presentes ao longo dos corredores das linhas de distribuição devido às colisões e eletrocussões.






     Avaliação de Riscos:

    De uma forma geral, é possível afirmar que a avaliação de riscos 
consiste no exame sistemático de uma instalação (em projeto ou laboração), identificando os riscos presentes no sistema bem como as ocorrências potencialmente perigosas e as suas possíveis consequências, tendo como objetivo fundamental a promoção de métodos capazes de fornecer elementos concretos que fundamentem um processo de decisão sobre a redução de riscos e danos, seja esta decisão de caráter interno ou externo à empresa. Portanto, analisar um risco é identificar, discutir e avaliar as possibilidades de ocorrência de acidentes, na tentativa de evitar que estes aconteçam e, caso ocorram, determinar as alternativas que minimizem os danos subsequentes a estes acontecimentos.

     O Método MARAT pode ser definido como um método simplificado quantitativo de avaliação de riscos de acidentes de trabalho, que vai possibilitar quantificar a magnitude dos riscos existentes e, como consequência, hierarquizar de modo racional a prioridade da sua eliminação ou correção. Torna-se pertinente clarificar alguns conceitos nomeadamente:

Nível de Deficiência (ND): Magnitude esperada entre o conjunto de fatores de risco considerados e a sua relação causal directa com o acidente;
Nível de Exposição (NE): Medida que traduz a frequência com que se está exposto ao risco. Para um risco concreto, o nível de exposição pode ser estimado em função dos tempos de permanência nas áreas de trabalho, operações com máquina, procedimentos, ambientes de trabalho, entre outros;
- Nível de Probabilidade (NP): É determinado em função das medidas preventivas existentes e do nível de exposição ao risco. Pode ser expresso num produto de ambos os termos;
Nível de Severidade (NS):  Refere-se ao dano mais grave que é razoável esperar de um incidente evolvendo o perigo avaliado;
Nível de Risco (NR): Será o resultado do produto de nível de probabilidade pelo nível das consequências: NR=NPxNS;
Nível de Controlo (NC): Pretende dar uma orientação para implementar programas de eliminação ou redução de riscos atendendo à avaliação do custo – eficácia.

   Num estudo realizado pela empresa Studytrab - Centro de Estudos de Higiene e Segurança no Trabalho em 2011 4, foi efetuada uma avaliação de riscos referente a um trabalho executado numa instalação elétrica de Média Tensão (MT) em tensão,  nomeadamente a limpeza de um Posto de Transformação (PT), através da aplicação do Método MARAT. Seguidamente apresento algumas imagens que ilustram a avaliação de riscos efetuada tendo em conta as principais tarefas realizadas durante o trabalho:
Figura 4 - Avaliação de Riscos
Figura 5 - Avaliação de Riscos
     Após a aplicação do Método MARAT para a avaliação dos riscos a que os trabalhadores estão expostos na atividade de limpeza de um Posto de Transformação em tensão, é possível verificar os riscos encontram-se avaliados essencialmente pelos primeiros quatro níveis de controlo, com distribuições próximas.
 
Figura 6 - Distribuição dos Riscos consoante o Nível de Controlo (I,II,III,IV,V)
Figura 7 - Distribuição dos Riscos dos Níveis de Controlo I e II

      Os riscos que requerem uma intervenção imediata (Nível de Controlo I) são maioritariamente de origem elétrica, representando 73% do total dos riscos deste nível, estes riscos advêm dos perigos de contactos indiretos ou formação de arco elétrico (50% eletrização) e de contactos diretos (23% explosão). Devido às dimensões limitadas deste tipo de instalações, ao fato de haver constantemente líquido derramado no chão e alguns equipamentos e ferramentas mal arrumadas, as quedas ao mesmo nível (11%) surgem com peso na ocorrência de dano para o trabalhador e para a instalação. 5
    Nos riscos que requerem a adoção de medidas de controlo enquanto a situação perigosa não for eliminada ou reduzida (Nível de controlo II), surgem para além dos riscos de eletrização (14%) e explosão (11%), com grande peso no nível de controlo I, os riscos de sobreesforços (23%) e entalamento (14%). Os sobreesforços têm origem nas posições do corpo adotadas para o manuseamento das varas isolantes de manobra, devido à sua dimensão e precisão dos movimentos que lhes têm de ser conferidos, podendo causar lesões músculo-esqueléticas. Os riscos de entalamento são originários do manuseamento de ferramentas usadas para reparações necessárias, de manobras dos órgãos de corte e no movimento das portas. 5

    Desta forma é de salientar a importância da utilização da avaliação de riscos por parte de todos os profissionais de higiene e segurança no trabalho pois só assim será possível garantir uma correta e adequada identificação dos riscos profissionais, bem como colaborar com os trabalhadores e os seus representantes, incrementando as suas capacidades de intervenção sobre os fatores de risco profissional e as medidas de prevenção adequadas. Pelas razões enumeradas, é fundamental que todas as empresas, independentemente da sua categoria ou dimensão, realizem avaliações regulares. Uma avaliação de riscos adequada inclui, entre outros aspetos, a garantia que todos os riscos relevantes são tidos em conta (não apenas os mais imediatos ou óbvios), a verificação da eficácia das medidas de segurança adotadas, o registo dos resultados da avaliação e a revisão da avaliação em intervalos regulares, para que esta se mantenham continuamente atualizada. Simultaneamente, sendo a EDP uma empresa em que a grande maioria das atividades realizadas estão relacionadas com operações em redes elétricas, muitas delas em tensão (TET), estas irão acarretar riscos elevados e adicionais aos associados à normal atividade, potenciadores da ocorrência de acidentes com consequências graves ou mortais para os profissionais intervenientes.

     Assim sendo, a implementação de uma política sustentada de segurança e higiene laboral abrangendo não só os trabalhadores mas os próprios quadros de chefia em qualquer empresa revela-se imprescindível, como já acontece no Grupo EDP, uma vez que esta aposta decisiva na melhoria das condições de trabalho trará vantagens económicas e sociais, não só para o sucesso do negócio mas também para o bem-estar dos trabalhadores, garantindo-se a sustentabilidade  do desenvolvimento social e económico, como refere a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no TrabalhoÉ importante que os quadros dirigentes demonstrem uma liderança efetiva no domínio da saúde e segurança, em conexão com os trabalhadores e a par dos seus outros deveres e responsabilidades. Uma gestão eficaz da segurança e saúde no trabalho  é um dos principais fatores do êxito duradouro de qualquer empresa.

Até à próxima publicação!

Ana Machado

Fontes Bibliográficas:
1-  EDP – Regulamento de Consignações da Rede de Distribuição AT, MT E BT, Outubro 2005;
2- Sargaço, J. Relatório Final de Estágio – Trabalhos em Tensão, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Junho 2007;
3- Carneiro, F. Avaliação de Riscos: Aplicação a um processo de Construção, Setembro 2011;
4- Santana, L. & Guiomar, F. Avaliação de Riscos de Trabalhos em Tensão em Instalações Elétricas de Média Tensão, Novembro 2011;
5- SPSI – Serviço Prevenção e Segurança Interempresas, Manual de Segurança - Prevenção do Risco Elétrico, DPS 1/2002 EDP, Janeiro 2002.

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