Estimados leitores, sejam novamente bem-vindos
ao meu blogue, o post de hoje é dedicado às águas de utilização recreativa,
mais concretamente às águas de piscinas. Sendo que estes espaços são diariamente utilizados
por um enorme número de pessoas, deve existir uma atenção especial e redobrada
no que se refere aos variados riscos que podem advir para a saúde pública,
devido à constante possibilidade de contaminação destas águas, por diversos
contaminantes químicos e/ou microbiológicos, como é o caso da bactéria Pseudomonas aeruginosa, frequentemente
presente neste tipo de águas.
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Fonte: https://www.google.pt/search?&piscinas+cobertas |
A Direção-Geral da Saúde elaborou um programa de
vigilância sanitária para as piscinas através da Circular Normativa nº14/DA, de 21 de Agosto de 2009, onde constam variadas noções e procedimentos, visando a avaliação da qualidade da água dos tanques, garantindo
a existência de planos de identificação, monitorização e controlo de risco, de
modo a evitar ou reduzir os riscos para a saúde dos utilizadores e trabalhadores das piscinas e jacuzzis. Este programa de vigilância
sanitária abrange as piscinas de Tipo 1 (públicas), Tipo 2 (semi-públicas), sendo excluídas as piscinas de Tipo 3
(uso privado), pois são destinadas a um número reduzido de utilizadores.
Durante o estágio, foi-me possível
proceder à realização de colheitas de amostras de água de utilização
recreativa, nomeadamente numa
piscina coberta municipal para Análise Microbiológica (AM) e Análise
Físico-Química (AFQ). Para efetuar estas colheitas foram necessários os
seguintes equipamentos:
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Figura 1 - Equipamentos necessários para a realização das colheitas de amostras de água de utilização recreativa |
Análise Microbiológica:
Este tipo de colheita para análise
microbiológica tem como objetivo a determinação dos parâmetros microbiológicos presentes na água e realiza-se através de dois
processos: colheita em superfície e colheita em profundidade. Para efetuar a colheita em
superfície é necessário um frasco devidamente esterilizado de polietileno e um frasco de vidro esterilizado
que contenha no seu interior tiossulfato de sódio.
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Figura 2 - Parâmetros Microbiológicos a monitorizar. a) o valor recomendado poderá ser ultrapassado uma vez por época de abertura ou ano civil, b)0/100 mL em 90% das amostras, esta avaliação (no final da época ou do ano civil) é da responsabilidade da Unidade de Saúde Pública Fonte: Circular Normativa nº14/DA, de 2009 |
1- Procedimento para a Colheita de Amostra de Água para Análise Microbiológica:
1.1- Colheita em Superfície:
- Remover com cuidado a tampa do frasco esterilizado,
junto à água;
- Encher o frasco à superfície da água, sempre voltado
para a frente (o frasco não deve ser enchido totalmente);
- Fechar corretamente o frasco;
- Proceder à devida identificação da amostra na
etiqueta colocada no frasco;
- Acondicionar o frasco numa mala térmica, aproximadamente
a 4ºC e fazer o seu transporte até um laboratório acreditado;
- Preencher a requisição de análise a ser entregue no
laboratório com a identificação da amostra e os parâmetros de campo medidos.
O prazo entre a colheita da água e o início da sua
análise não deve ultrapassar as 6 horas e a temperatura deve ser mantida,
aproximadamente entre 3 a 5ºC.
1.2- Colheita em Profundidade:
- Colocar corretamente as cordas na armação do frasco;
- Submergir o frasco à profundidade pretendida
(aproximadamente 1 metro);
- Movimentar a corda que aciona a abertura do frasco
(a corda que permite a entrada de água no frasco deve ser puxada apenas quando
o frasco estiver completamente submerso);
- Encher o frasco, fechá-lo corretamente e retirá-lo
da água;
- Identificar o frasco com a etiqueta e colocá-lo na
caixa metálica;
- Colocar
na mala térmica a caixa metálica que contém o frasco e transportá-los ao
laboratório.
O prazo entre a colheita da água e o início da sua análise não deve ultrapassar as 6 horas e a temperatura deve ser mantida, aproximadamente entre 3 a 5ºC.
Análise Físico-Química:
Este tipo de colheita para análise
Físico-Química tem como objetivo a determinação dos parâmetros físico-químicos
presentes na água, sendo necessário para a realização da colheita um frasco de
polietileno.
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Figura 3 - Parâmetros Físico-Químicos a monitorizar. Fonte: Circular Normativa nº14/DA, de 2009 |
2- Procedimento para a Colheita de Amostra de Água para Análise Físico-Química:
- Calçar as luvas;
- Destapar o frasco na proximidade da água,
conservando a tampa virada para baixo, sem a pousar no chão;
- Mergulhar o frasco em posição vertical a uma profundidade
de cerca de 20 cm, inclinando-o para encher;
- Deslocar o frasco para a frente até ao seu
enchimento. O frasco deverá ficar completamente cheio;
- Retirar o frasco, fechá-lo e identificá-lo;
- Colocar o frasco na mala térmica e transportá-lo ao
laboratório de imediato;
- Preencher a requisição de análise a ser entregue no
laboratório com a identificação da amostra e os parâmetros de campo medidos.
O prazo entre a colheita da água e o início da sua análise não deve ultrapassar as 6 horas e a temperatura deve ser mantida, aproximadamente entre 3 a 5ºC.
Análises de Campo:
Dentro das análises de campo, costuma-se
analisar três parâmetros, teor de pH e de cloro residual livre e a temperatura
da água. O teor de cloro residual livre varia consoante o valor do pH, ou seja,
para um pH dentro do intervalo de 6,9-7,4 o cloro deverá estar no intervalo de 0,5-1,2 mg/L;
para um pH dentro do intervalo de 7,5-8 o cloro deverá estar dentro do
intervalo 1-2 mg/L. Da mesma forma é conveniente que a temperatura da água da
piscina, no caso de uma piscina coberta, apresente valores de temperatura
inferiores a 30º C.
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Figura 4 - Colheita em Superfície para Análise Microbiológica |
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Figura 5 - Frasco de vidro esterilizado para a Colheita em Profundidade (Análise Microbiológica) |
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Figura 6 - Colheita em Profundidade para Análise Microbiológica |
Ao longo dos anos temos assistido a um aumento
exponencial no que diz respeito à procura de piscinas quer para atividades
desportivas, recreativas quer para atividades terapêuticas, pelo que diversas
instituições, públicas ou privadas, têm tentado corresponder a esta solicitação
colocando à disposição dos utilizadores um grande número de piscinas. Contudo, nem a qualidade da água nem a
especificação das condições de instalação e de funcionamento de piscinas (à exceção
das incluídas em recintos com diversões aquáticas e das destinadas à
hidroterapia) são objeto de regulamentação, não existindo desta forma diplomas
legais que estabeleçam requisitos quer relativamente à qualidade de água em
piscinas quer às suas condições de instalação e funcionamento. A publicação “Guidelines for
recreational water environments. Volume 2: Swimming pools and similar environments”,(2006), da Organização Mundial de Saúde, apresenta uma revisão exaustiva dos perigos
e riscos para a saúde associados a águas recreativas em piscinas e sua
avaliação, dos procedimentos relativos à monitorização, controlo e gestão,
constituindo um documento técnico muito importante, mas igualmente sem força de
aplicação legal.
Desta forma, penso que deverá existir um esforço
conjunto por parte de todos os profissionais que englobam as equipas de saúde
pública no sentido de identificar, prevenir e anular os potenciais riscos para
a saúde que poderão advir da utilização de piscinas, pois uma vez que não
existe um suporte legal que regulamente as mesmas à exceção das incluídas em
recintos com diversões aquáticas e das destinadas à hidroterapia, torna-se
urgente o reforço de algumas ações nomeadamente: apreciação de projetos no que
se refere à caraterização e condições de instalação e funcionamento de
piscinas tendo como base legislação relativa a locais de trabalho, infraestruturas
de saneamento básico, organização das atividades de segurança, higiene e saúde
no trabalho, entre outros diplomas legais; informação ao público utilizador (por
exemplo: afixação dos resultados analíticos, obrigatoriedade do cumprimento dos
preceitos higiénicos), sensibilização e cooperação ativa com os gestores das
piscinas numa perspetiva de melhoria contínua da qualidade da água; salubridade
e segurança de infraestruturas e espaços físicos.
As Cloraminas em Piscinas Cobertas:
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Fonte: https://www.google.pt/search?hl=pt-PTcloraminas |
Uma vez que nesta publicação me debruçei sobre a qualidade das águas de utilização recreativa, mais concretamente de piscinas, considero relevante partilhar convosco um artigo que encontrei elaborado pela American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE) em 2012: "Designing for IAQ in Natatoriums" que teve como propósito avaliar o impacto da produção de cloraminas na qualidade do ar em piscinas cobertas, bem como as consequências para a saúde dos utilizadores destas instalações. O cloro combinado ou as cloraminas assim como outros subprodutos da desinfeção resultam da reação entre o cloro e substâncias introduzidas na água pelos banhistas, sendo que os tipos e as quantidades de subprodutos da desinfeção formados nas piscinas dependem de vários fatores como o tipo e quantidade de desinfetante usado, as caraterísticas da água e as substâncias libertadas pelos utilizadores. Na figura seguinte pode-se observar um esquema de Zwiener e dos seus colaboradores (2007) que mostra os reagentes intervenientes na formação de subprodutos da desinfeção numa piscina.
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Figura 7 - Possíveis contaminantes de águas de piscinas |
A reação de cloro com compostos amoniacais presentes na água dá origem à formação de cloraminas inorgânicas:
- Monocloramina: Das 3 cloraminas existentes a monocloramina é a mais abundante e também a mais estável. Esta espécie é bastante solúvel na água e decompõe-se com facilidade quando exposta à luz ou calor, pois a polaridade da ligação N-Cl é considerada baixa (Selleck, 1991).
- Dicloramina: A dicloramina resulta da reacção de excesso de cloro com amónia a um pH entre 4,4 e 8,5. (Chapin, 1929). A ligação N-Cl na dicloramina consegue ser menos polar do que a da monocloramina e por este motivo é menos solúvel em água.
- Tricloramina: A tricloramina forma-se em condições ácidas que ocorrem quando a concentração de cloro é muito superior à concentração de amónia. A estas concentrações de cloro e a um pH inferior a 3, a tricloramina é a única cloramina encontrada. Para um pH superior a 7,5 não é possível encontrar tricloramina, independentemente da razão Cl2:NH4.
No que diz respeito à qualidade do ar duma piscina coberta devem ser seguidas as recomendações da legislação atual, existentes no Decreto-Lei nº 79/2006 (RSECE - Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios), sendo que a ventilação numa piscina é necessária para corrigir a temperatura e humidade do ar provenientes da evaporação de água. Contudo, certos autores concluiram que alguns sistemas de ventilação destas instalações não são na maioria das vezes adequados, desta forma as cloraminas transferem-se da água para o ar causando um mau estar entre os utentes. (Batterman et al, 2000)
Relativamente às doenças provocadas pela exposição a cloraminas no ar das piscinas, alguns autores concluíram que, por exemplo, a exposição prolongada à tricloramina é causa de asma ocupacional entre funcionários de piscinas, e muito provavelmente causa de asma entre frequentadores assíduos. Jacobs e colaboradores (2007) estudaram a relação entre actividades dos funcionários de piscina e respectivos sintomas respiratórios. A equipa analisou 624 funcionários e colheu amostras do ar em seis piscinas para medir os níveis de tricloramina, verificando que a tricloramina pode constituir um fator de risco para a asma. Segundo Kanerva, 1993, a renite alérgica pode ser desencadeada por por alergénios (como o cloro ou as cloraminas) do ambiente de trabalho, sendo três vezes mais frequente que a asma ocupacional e muitos portadores de rinite evoluem para a asma ocupacional, constituindo uma afeção de maior gravidade.
Espero que este post tenha
sido esclarecedor caros leitores, alguma dúvida disponham.
Até breve!
Ana Machado
Fontes Bibliográficas: