" O aumento
populacional, a concorrência global cada vez maior e os objetivos ambiciosos ao
nível ambiental têm aumentado de forma constante as exigências impostas aos
serviços citadinos, de forma a melhorar a sua eficiência e sustentabilidade."
Monteiro, P.,2012
Bem-vindos novamente estimados leitores!
Figura 1 - Logótipo do Projeto InovGrid |
Na presente
publicação irei
falar-vos sobre a implementação de um projeto inovador e pioneiro a nível
mundial no âmbito das redes inteligentes no setor da energia elétrica que
consiste no Projeto InovGrid. O
presente projeto foi lançado no ano de 2007, pela EDP, através da EDP Distribuição, contando simultaneamente com a parceria estratégica de outras
empresas e instituições portuguesas de produção industrial, tecnologia e investigação
nomeadamente a EDP Inovação, EFACEC, INESC Porto, JANZ/CONTAR e LÓGICA, tendo
como meta primordial dotar a rede elétrica de informação e equipamentos capazes de automatizar a gestão da rede, melhorar a qualidade de serviço, diminuir os custos de operação, promover a eficiência energética e a sustentabilidade ambiental, potenciar a penetração das energias renováveis e do veículo elétrico. 1 Assim sendo, este projeto focado nas redes inteligentes, nasceu
de forma pioneira e desenvolveu-se orientado por uma visão holística do sistema elétrico,
com o objetivo de dar resposta aos grandes desafios que as
redes de energia elétrica, em Portugal e no mundo, vão
enfrentar nas
próximas décadas.
Estes novos desafios tornam mais complexa a
manutenção do fundamental equilíbrio entre a oferta e a procura de energia no
sistema elétrico, algo que vai exigir a introdução de maior inteligência
na rede, entendendo-se por inteligência a capacidade da
rede monitorizar, analisar, processar, memorizar,
reportar e atuar de forma distribuída, através dos múltiplos sensores, atuadores
e dispositivos colocados em todos os pontos relevantes da rede e comunicando
entre si e
com todos os outros agentes envolvidos (como os consumidores e
micro-produtores). 1 Uma solução baseada em redes inteligentes permitirá
obter um conhecimento mais profundo da própria rede, aumentar a indispensável capacidade de gestão de
fluxos de energia mais complexos e fomentar uma participação muito
mais ativa do consumidor/micro-produtor. Estas alterações induzirão benefícios
muito significativos no sistema elétrico e na sociedade e promoverão
o desenvolvimento de novos produtos e serviços energéticos a
uma escala que esta área atualmente desconhece. Os benefícios serão
particularmente importantes nas zonas urbanas, onde a elevada densidade
populacional é um fator acrescido de exigência.
Figura 2 - Desafios históricos e novos desafios da rede elétrica |
Figura 3 - Benefícios do Projeto InovGrid |
Estas equipas têm vindo a trabalhar com situações e
dados concretos que servirão para alimentar o projeto e conferir -lhe uma
solidez que permita continuar com o seu avanço em larga escala.
Arquitetura do Projeto InovGrid:
Foi na Baixa Tensão (BT) onde foram realizadas as maiores alterações na
rede elétrica no âmbito do Projeto InovGrid. Enquanto que na Média, Alta e Muito
Alta Tensão (MT, AT, MAT) existe já um grau significativo de conhecimento permanente
da rede e uma capacidade relevante de intervir remotamente, é ao nível da transformação
MT/BT e da BT, até ao local de consumo, que o grau de conhecimento e de capacidade
de atuação é mais limitado. Acresce a esta limitação o fato de os novos
desafios incidirem sobretudo na rede BT de onde resulta, portanto, a
necessidade de conseguir geri-la melhor.
A arquitetura do Projeto InovGrid está ilustrada na
figura seguinte, onde se apresentam equipamentos em três camadas distintas,
comunicando entre si.
Figura 4 - Arquitetura do Projeto InovGrid |
Ainda relativamente
à arquitetura do Projeto InovGrid, irei explicar detalhadamente cada um dos
equipamentos referidos anteriormente na figura, de forma a promover e facilitar
uma compreensão global de todo este processo.
- EDP Box (EB): A EDP Box (EB) é um dispositivo fundamental para
a gestão do cliente e para a gestão da rede BT, que se instala nos locais de
consumo. Este equipamento substituirá o contador tradicional e, onde aplicável,
o disjuntor de controlo de potência, mas tem um nível de funcionalidade muito
superior e capacidade de comunicação remota. Em particular, a EB será um dispositivo
importante para o controlo da qualidade de serviço prestado e para a gestão
mais eficiente da rede BT, através do envio de dados de monitorização de
grandezas elétrica relevantes. A EB pode ser remotamente atualizada para
melhoria das suas funcionalidades ou introdução de novas funcionalidades, o que
lhe confere um enorme potencial de evolução. Tem ainda, opcionalmente, capacidade
para comunicar com dispositivos dentro de casa do consumidor para permitir a
sua participação ativa e promover a eficiência no consumo. 3
Figura 5 - Exemplo de uma EDP Box (EB) |
- Controlador
do Transformador da Distribuição ou Distribution
Transformer Controller (DTC): O Distribution Transformer
Controller (DTC) é um equipamento que se instala no posto
de transformação MT/BT para fazer a gestão do transformador de potência e da
rede BT associada, incluindo a gestão das EB´s dessa rede. O DTC tem assim
funções de monitorização e controlo do Posto de Transformação (PT), de análise
de informação, reporte e atuação local, e de concentração da informação recolhida
das EB´s. A informação recolhida e analisada pelo DTC é essencial
para a redução de perdas técnicas, redução de perdas comerciais e para a
potenciação de outros benefícios. Passarão pelo DTC as principais inovações
futuras relativas à gestão da procura, gestão da micro-produção e gestão do
carregamento do veículo elétrico. O DTC tem de ser um controlador versátil, remotamente
atualizável e com diferentes interfaces e protocolos de comunicação. Nos casos
em que se justifique o investimento, o DTC poderá ser complementado com funções
de medição de qualidade da onda elétrica ou com outros dispositivos que
permitam o telecomando do PT. 3
- Sistemas
Centrais, Técnicos e Comerciais: A arquitetura do Projeto InovGrid prevê sistemas e fluxos de informação distintos
com a infra-estrutura (DTC´s e EB´s), para informação do tipo comercial
(leituras de contagens, configurações de tarifários, ordens de serviço
comercial) e informação do tipo técnica (alarmes, valores instantâneos no PT). O
conteúdo e frequência de comunicação dos sistemas com os equipamentos são
configuráveis, para os dados comerciais prevê-se uma recolha de informação com
uma frequência mínima diária, e o envio de ordens de serviço sempre que necessário. Um dos
grandes desafios na área dos sistemas é a gestão útil dos dados, que podem
atingir enormes volumes. Neste contexto, assume particular importância a
criteriosa configuração do tipo e frequência dos dadosrecolhidos, de modo a que
se obtenha apenas aquilo que é relevante para os benefícios da solução, sempre
respeitando a privacidade dos dados. 3
Évora - InovCity:
Ainda
dentro do Projeto InovGrid, a cidade de Évora, tornou-se em 2010, na
primeira metrópole a receber a rede inteligente de energia elétrica, tornando-se na primeira InovCity, abrangendo todo o município de Évora, com cerca
de 54 mil habitantes, 31 mil consumidores e 341 postos de transformação. A
região foi selecionada por respeitar um conjunto de
critérios relevantes para esta experiência como a
dimensão, o tipo de rede elétrica, a sua
visibilidade nacional e internacional, o nível
médio de consumo e a inserção no piloto nacional
da rede de postos de carregamentodo veículo elétrico. 3
Com a InovCity, pretendeu-se estimular na população uma maior
sensibilidade para as questões de eficiência energética
e de utilização racional da energia. Nesse
sentido foi aberto o espaço InovCity em Évora
e foram realizadas múltiplas iniciativas de envolvimento
dos diversos setores da sociedade –
desde as autarquias à população jovem, passando pelos
profissionais de energia, pelo meio académico,
por clientes selecionados.
Figura 6 - Exemplos de algumas iniciativas realizadas junto da população no âmbito da InovCity |
Devido a esta abordagem
integrada, gerou-se um forte interesse por parte de entidades externas
nacionais e internacionais para visitar Évora, mais concretamente determinadas instalações, equipamentos e atividades
inseridas na InovCity, que serão apresentadas na figura seguinte.
Figura 7 - Exemplos de instalações/equipamentos/atividades inseridas na InovCity |
De forma a garantir uma melhor perceção sobre a InovCity, apresento um vídeo que demonstra resumidamente quais as principais funcionalidades da mesma.
Desta
forma, a InovCity, funcionou como um ensaio fundamental para a
utilização das redes inteligentes, para a abordagem aos consumidores neste
contexto de maior envolvimento e para a sua própria afirmação ao nível europeu
nesta área inovadora, estando já concluída a instalação de 31.000 EB´s e 340
DTC´s e tendo já 31.000 clientes
domésticos abrangidos por um sistema elétrico inteligente. 3 Após esta implementação bem sucedida, a EDP Distribuição está já a avançar com uma campanha para a instalação de mais
100.000 EB´s
em 7 regiões do país, onde irá utilizar uma EB mais normalizada e
com mais funcionalidade, e aumentar o número de clientes, recordando que de acordo com a Diretiva 2009/28/CE 4, em 2020, 80% dos consumidores deverão possuir rede elétrica inteligente.
De realçar que o projeto InovGrid recebeu já diversos prémios que
atestam a sua visão estratégica e a sua capacidade
concretizadora. Um dos
acontecimentos mais significativos, foi a seleção do InovGrid, de entre mais de 220
projetos europeus, pelo Joint Research Centre
da Comissão Europeia e pelo Eurelectric como o caso de estudo para
o teste e validação de uma
metodologia de avaliação de projetos no âmbito das
redes inteligentes, cuja aplicação se pretende generalizar
a todos os projetos deste tipo na União Europeia. 5 A necessidade de promover as redes
inteligentes, através de programas
específicos de incentivos ao seu desenvolvimento, tem vindo a ser extensamente
debatida e a ganhar cada vez maior relevância na estratégia energética na
Europa e, de um modo geral, nas regiões mais desenvolvidas do mundo.
Com o objetivo de verificar a melhoria na eficiência do consumo
elétrico por parte do consumidor a partir da implementação de um sistema
inteligente de energia elétrica (Projeto InovGrid), a EDP Distribuição realizou
um estudo em Évora envolvendo mais de 15 000 clientes, através da análise e
comparação dos consumos elétricos das EB´s nalguns grupos de clientes
distintos. 6 De referir que os grupos de clientes do presente estudo foram
segmentados de acordo com níveis de consumo e de potência contratada, tendo-se
atribuído a cada um dos segmentos estabelecidos um pacote de produtos e/ou
serviços (displays, software,
tarifários experimentais, avisos por email ou sms) cuja eficácia também se
pretendeu avaliar. Em todo este processo houve o cuidado de se definir amostras
e de se tratar os dados de modo a obter resultados extrapoláveis para o resto
do país. Seguidamente, irei apresentar alguns resultados referentes a alguns
clientes pertencentes ao segmento empresarial no que diz respeito à eficiência
energética.
Gráfico 1 - Média dos Consumos de Energia Elétrica de todas as 4ª feiras referentes aos meses de Maio e Outubro num Museu de Évora |
Gráfico 2 - Média dos Consumos de Energia Elétrica de todas as 4ª feiras referentes aos meses de Maio e Outubro na Direção Geral de Impostos de Évora
É de salientar que na
média obtida no mês de Maio, os clientes utilizavam ainda a rede elétrica
tradicional, em contrapartida, no mês de Outubro, já tinha sido implementado o
sistema de rede elétrica inteligente e os clientes já estavam mais informados/sensibilizados
relativamente a todas as funcionalidades da mesma e ao padrão de consumo dos
diferentes equipamentos presentes no local. Através
da análise dos gráficos é possível constatar que ocorreu uma poupança
energética significativa nos dois casos (16% no Museu e 12% na Direção Geral de
Impostos), que poderá ser explicada não só devido à própria instalação do
sistema inteligente de rede elétrica mas sobretudo devido a uma alteração dos hábitos comportamentais dos
clientes, relacionada com o acesso a informação mais detalhada sobre os
consumos das instalações e uma adequada perceção sobre o padrão de consumos dos
equipamentos.
Assim sendo, o Projeto InovGrid pode ser considerado como uma
aposta extremamente vantajosa uma vez que permitirá atingir objetivos
energéticos essenciais nomeadamente uma abordagem centrada no consumidor/produtor,
melhoria da qualidade de serviço, maior eficiência nas operações
técnicas/comerciais, mas sobretudo será uma mais valia relativamente à
sustentabilidade energética e consequentemente ambiental, já que potencia o conhecimento por parte do consumidor, daquilo que efetivamente consome, permitindo-lhe uma gestão mais pró-ativa e eficiente da sua energia.
Fontes Bibliográficas:
1- EDP Distribuição - 1ª Conferência de Energia e Ambiente:
Projeto InovGrid, Novembro 2011;
2- ERSE - Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos - Funcionalidades
mínimas e plano de substituição dos contadores de energia elétrica, Maio 2007;
3- EDP Inovação - Desenvolvimento da SmartGrid da EDP: Projeto InovGrid, Julho 2010;
5- JRC - Joint
Research Centre - Guidelines for
conducting a cost-benefit analysis of Smart Grid projects, European Commission, 2012;
6- EDP Distribuição - Gestão Sustentável de Energia: Projeto
InovGrid, Setembro 2013.
Até à próxima publicação!
Ana Machado
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