sábado, 26 de outubro de 2013

Programa REVIVE (Rede Nacional de Vigilância de Vetores)

As doenças transmitidas por vetores têm emergido, ou reemergido, como resultado de alterações climáticas, demográficas e sociais, alterações genéticas nos agentes patogénicos, resistência dos vetores a inseticidas e inversão da importância dada à resposta à emergência em detrimento da prevenção.

Administração Regional de Saúde do Norte, I.P,2011

Figura 1 - Mosquito Aedes aegypti adulto
Fonte: https://www.google.pt/search?q=aedes+aegypti&source
     Caros leitores, como tem sido referido ao longo deste blogue, a Saúde Ambiental constitui-se como uma área por si só bastante ampla, abrangendo diversas temáticas, algumas delas já aqui descritas por mim. Desta forma, chegou o momento de me debruçar sobre outra temática igualmente relevante no que diz respeito á atuação do Técnico de Saúde Ambiental e que, pessoalmente, me desperta um grande interesse que consiste na participação no programa REVIVE (Rede Nacional de Vigilância de Vetores).
    O programa REVIVE surgiu no ano de 2007 tendo como propósito: “monitorizar o desenvolvimento, o comportamento e a sobrevivência de vetores e hospedeiros e consequentemente a dinâmica da transmissão da doença”. Em 2008, foi assinado um Protocolo, por um período de dois anos entre a Direção Geral de Saúde, as Administrações Regionais de Saúde e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge com o objetivo de determinar o nível de risco associado à presença de culicídeos (vulgarmente conhecidos como mosquitos) em Portugal. O mesmo Protocolo foi revisto em 2010 e alargou a vigilância de vetores aos ixodídeos (vulgarmente conhecidos como carraças) sendo as principais finalidades do programa REVIVE (2010-2015)


a) "Vigiar a atividade de artrópodes hematófagos, caraterizar as espécies e a ocorrência sazonal em locais previamente selecionados.
b)  Identificar agentes patogénicos importantes em saúde pública transmitidos por estes vetores.
c)  Emitir alertas para a adequação das medidas de controlo, em função da densidade dos vetores e do nível de infeção."

O Programa REVIVE insere-se no âmbito de atuação do Técnico de Saúde Ambiental, pois no Decreto-Lei nº 117/95, de 30 de Maio referente ao conteúdo funcional do Técnico de Saúde Ambiental na alínea a) do artigo 1 pode ler-se que: “O Técnico de higiene e saúde ambiental atua no controlo sanitário do ambiente, cabendo-lhe detetar, identificar, analisar, prevenir, e corrigir os riscos ambientais para a saúde, atuais ou potenciais que possam ser originados por fenómenos naturais...". Assim sendo, o Técnico de Saúde Ambiental desenvolve ações nomeadamente a colheita, armazenamento e expedição das amostras de vetores para entidades creditadas (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas (CEVDI), para posteriormente serem estudados e analisados, contribuindo para a avaliação do risco de proliferação de vetores e transmissão de doenças com relevância em Saúde Pública, bem como para a proteção da saúde da comunidade através da divulgação de medidas preventivas que potenciem a diminuição da população de vetores e o risco de picada, minimizando o risco associado.
Durante o estágio, tive a oportunidade de participar numa colheita de culicídeos, mais concretamente de mosquitos adultos, bem como verificar o acondicionamento e a expedição das amostras para o CEVDI.

                                                             Culicídeos (Mosquitos)

A presença de água é fundamental para a existência de mosquitos, uma vez que constítui o meio pelo qual completa o seu ciclo evolutivo. A temperatura é também essencial para um desenvolvimento mais rápido e aumento da descendência, desde que esteja entre os 25ºC e os 30ºC, sendo que a população tende a crescer na Primavera e no Verão. O ciclo de vida dos mosquitos é constítuido por uma fase aquática - ovos, larva, pupa e por uma fase aérea correspondente ao mosquito adulto. As fêmeas têm o aparelho bucal adpatado à sucção de sangue de animais vertebrados, sendo por isso importantes vetores de agentes patogénicos, como a malária, febre-amarela, dengue, devendo estas ser alvo de uma maior preoucupação.

Figura 2 - Ciclo Evolutivo dos Mosquitos

Procedimento de Colheita de Amostras de Mosquitos Adultos:

A colheita de mosquitos adultos foi realizada num jardim público, num local estratégico abrigado do vento. Para a colheita foi utilizada uma armadilha CDC (Centers for Disease Control and Prevention), esta armadilha possui uma fonte de luz que vai atrair os mosquitos para um local onde estes são aspirados passando de imediato para o recipiente coletor. Por sua vez o gelo seco também vai atrair os mosquitos mas devido à libertação de dióxido de carbono, já que estes localizam os potenciais hospedeiros através do dióxido de carbono expirado durante a respiração.

Material:
- Armadilha tipo CDC (Center for Disease Control) e recipiente coletor;
- Bateria carregada;
- Gelo seco e saco;
- Termo-higrómetro.

Método de Colheita:
1- Produzir o gelo seco necessário à colheita;
2- Colocar a armadilha antes do pôr-do-sol com o recipiente coletor e ligar à bateria;
3- Verificar se as portas metálicas basculantes da armadilha se encontram na posição fechada e testar várias vezes se abrem e voltam à posição inicial;
4- Colocar o Termo-higrómetro. Anotar os dados importantes no boletim de colheita (tipo de habitat, proximidade de água, entre outros);
5- Colocar o recipiente de gelo seco na proximidade da armadilha (se for um saco de plástico deve-se fazer um furo);
6- Na manhã do dia seguinte, após o nascer do sol, recolher com cuidado o recipiente coletor, evitando fugas dos mosquitos capturados. Registar os dados relativos à temperatura e humidade relativa no boletim de colheita.

Expedição das Colheitas:
Para a expedição, as amostras foram bem acondicionados em recipientes estanques, sendo que estes foram posteriormente colocados numa caixa térmica em esferovite com um termoacumulador e enviados por correio juntamente com os boletins de colheita para o CEVDI (Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas).

Figura 3 - Produção de Gelo seco

Figura 4 - Colocação da armadilha e do saco com gelo seco

Figura 5 - Colocação do Termo-higrómetro junto da armadilha

Figura 6 - Acondicionamento dos mosquitos capturados em recipiente estanque
    De acordo com a informação mensal (Setembro de 2012), emitida pela Direção Geral de Saúde (DGS) referente aos casos de febre de dengue que surgiram na Ilha da Madeira, desde o início do surto de dengue em Setembro de 2012, foram notificados através do Madeira Dengue Surveillance System, 2187 casos prováveis de febre de dengue, dos quais 1084 (50%) foram confirmados laboratorialmente. Desde a última atualização da DGS, de 19/05/13, foram reportados 9 novos casos prováveis de febre de dengue na Ilha. Todos foram sujeitos a investigação laboratorial, tendo sido confirmados 2 casos, importados da Venezuela.
   Após a leitura deste comunicado, penso que fica demonstrada a necessidade da existência de uma rede de vigilância de vetores que abranja todo o território português e que esteja em permanente articulação com outras redes de vigilância internacionais por forma a detetar atempadamente qualquer alteração quer na abundância quer na diversidade de vetores, facilitando a tomada de decisão por parte das autoridades de saúde no sentido de serem adotadas medidas e estratégias que contribuam para o controlo das populações de vetores reduzindo ou eliminando o seu impacto na saúde pública.



Alterações Climáticas e Doenças Transmitidas por Vetores:


   Uma vez que estou a abordar a temática das doenças transmitidas por vetores, torna-se relevante explorar um pouco a questão das alterações climáticas e a sua associação no processo de transmissão de doenças veiculadas por vetores bem como as implicações que daí poderão advir para a saúde pública. Atualmente, temos assistido a alterações climáticas drásticas que poderão constituir uma grave ameaça para a saúde pública mundial, uma vez que o aumento e a intensidade de temperaturas extremas adversas bem como a ocorrência de eventos climáticos extremos (secas, cheias), poderão contribuir favoravelmente para a proliferação de doenças associadas à agua, alimentos, poluição do ar e transmitidas por vetores. Segundo o Program on Health Effects of Global Environmental Change, Department of Environmental Health Sciences, USA"As mudanças temporais e espaciais de temperatura, humidade e precipitação que se espera que ocorram como consequência das alterações climáticas, afetarão a biologia e ecologia dos vetores mas também dos hospedeiros, podendo aumentar o risco de transmissão de doença".

  Um estudo realizado pela World Health Organization (WHO) em 2000, teve como objetivo determinar a influência das alterações climáticas sentidas em todo o mundo, no processo de transmissão de várias doenças veiculadas por vetores. Segundo o presente estudo, determinados fatores como os padrões sazonais dos vetores, alterações ambientais, bem como os próprios estatutos socio-económicos das populações poderão alterar significativamente a epidemiologia de algumas doenças transmitidas por vetores. Estima-se que a temperatura mundial aumentará entre 1-3,5ºC em 2100, sendo que a maior consequência que poderá advir deste aumento de temperatura está relacionada com os intervalos de temperatura necessários para a transmissão da doença (14-18ºC como limite inferior e 35-40ºC como limite superior), como é referido por Watts et al, 1987. Desta forma, é possível verificar que nos climas mais quentes a fêmea de mosquito adulto digere o sangue mais rapidamente e alimenta-se com mais frequência, sendo que o vírus da malária completa o ciclo de incubação dentro do mosquito num período mais curto do que seria de esperar (Gillies, 1953).
Nos últimos 100 anos, a Europa assistiu a um aumento de temperatura de cerca de 0,8ºC, tendo sido registados recentemente casos de paludismo no Azerbaijão, Arménia e Turquia, sendo muito provável que esta mudança climatérica amplie ainda mais a distribuição atual da doença (Sabatinelli, 200). Em África, também é calculável que em 2050 ocorra um aumento da temperatura média de cerca de 1,6ºC, favorecendo assim a transmição da maioria das doenças veiculadas por vetores como o paludismo, febre amarela, febre hemorrágica, oncocercose, leishmaniose, entre outras (Coluzzi et al, 1979). Também na Ásia, os investigadores prevêm que em 2070 as temperaturas superficiais médias aumentem entre 0,4-4,5ºC, sendo que no Sri Lanka o risco das epidemias de paludismo aumentaram quatro vezes durante o ano de atividade do fenómeno El Niño (Bouma, 1996).


Figura 7 - Distribuição dos casos de doenças transmitidas por vetores na América do Sul em 1996
Figura 8 - Áreas possíveis de estabelecimento do mosquito Aedes albopictus na Europa em 2010 e 2030

Considero que o estudo apresentado representa mais uma ferramenta indispensável e algo a ter em conta no que diz respeito à prevenção e/ou eliminação dos riscos para a saúde humana por parte das Redes de Vigilância de Vetores quer nacionais quer internacionais. Não podemos negar o fato de que as alterações climatéricas e as suas consequências estão a ter grandes repercussões um pouco por todo o mundo, até mesmo em Portugal, sendo que o clima tem sofrido algumas alterações, registando-se um aumento significativo das temperaturas máximas e mínimas médias, estando a aproximar-se de um clima tropical, como explica o metereologista Costa Alves, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o que poderá favorecer a presença e a proliferação de vetores  devido ao calor e humidade, por estes motivos a vigilância de qualquer alteração no número de espécies revela-se fundamental no sentido de reforçar o controlo e  a prevenção.


Ana Machado

Fontes Bibliográficas:

- Climate change and vector-borne diseases: a regional analysis. World Health Organization, 2000:
 http://www.who.int/bulletin/archives/78(9)1136.pdf
- Decreto-Lei nº 117/1995, de 30 de Maio:
- Programa Regional de Vigilância de Vetores 2010-2015:
- Relatório REVIVE - Culicídeos:
- Informação mensal dos casos de febre de dengue na Ilha da Madeira (Setembro de 2013) emitida pela Direção Geral de                Saúde:

sábado, 19 de outubro de 2013

Saúde Escolar

“ A escola constitui-se como o espaço ideal seguro e facilitador, para a adoção de     
 comportamentos saudáveis e conscientes, encontrando-se numa posição de excelência para promover a saúde    
da comunidade educativa e, consequentemente, de toda a comunidade envolvente,    
o que contribuirá para ganhos em saúde da população, a médio e longo prazo.”     

    Ministério da Saúde, 2006          

Fonte: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT=saude+escolar

      Olá estimados leitores!

     Hoje irei expor mais uma temática de grande interesse que à semelhança dos outros temas previamente abordados, é bastante importante para a atuação do Técnico de Saúde Ambiental: a  Saúde Escolar. Na verdade, está encontra-se descrita nos pontos 2 e 9 do artigo 3ºdo Decreto-Lei nº117/95, de 30 de Maio referente ao Conteúdo Funcional do Técnico de Saúde Ambiental:

 2 - A atuação dos técnicos de higiene e saúde ambiental é realizada, quando necessário, com o apoio técnico dos técnicos auxiliares sanitários e desenvolve-se nas áreas seguintes: 
f) Saúde escolar; ”

- “ 9 - A área de saúde escolar compreende a participação em ações de promoção e manutenção da higiene e segurança dos estabelecimentos escolares. ”

           Sendo nos estabelecimentos escolares onde as crianças e jovens passam a maior parte do seu tempo, estes pela sua localização, segurança, tipo de instalações, modo de funcionamento, podem atuar favorável ou desfavoravelmente sobre o crescimento e desenvolvimento, condicionando fortemente a saúde de todos os seus utilizadores, respetivamente, alunos, professores, funcionários. Desta forma, estes devem constituir-se como espaços seguros e saudáveis, de maneira a facilitar a adoção de comportamentos mais saudáveis por parte de toda a comunidade escolar.

            No âmbito ainda da Saúde Escolar, foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE), divulgado pela Circular Normativa nº 7/DSE de 29/06/2006, tendo como objetivo primordial a promoção e proteção da saúde, o bem-estar e o sucesso educativo das crianças e jovens escolarizados, sendo as principais àreas de intervenção: a Saúde Individual e Coletiva, Inclusão Escolar, Ambiente Escolar e Estilos de Vida.


     Avaliação das Condições de Segurança, Higiene e Saúde de um Estabelecimento de Educação e Ensino:

Fonte: https://www.google.pt/search?hl=ptsitesaude+escolar
No decorrer do presente estágio, tive a oportunidade de acompanhar uma vistoria a um estabelecimento de educação e ensino, nomeadamente uma Escola Básica com Jardim de Infância, por forma a avaliar as condições de segurança, higiene e saúde do mesmo, pois sendo um dos objetivos específicos do PNSE: "promover um ambiente escolar seguro e saudável", estas vistorias revelam-se fundamentais pois permitem não só o diagnóstico mas também e sobretudo a prevenção de potenciais riscos presentes no ambiente escolar. Esta vistoria foi realizada tendo por base as orientações presentes na Circular Normativa nº7/DSE, de 29/06/2006, mais concretamente uma checklist, que permite determinar se o estabelecimento avaliado se encontra de acordo com as condições de segurança, higiene e saúde pretendidas. Esta checklist está dividida em:   
  • Grupo I – Identificação do estabelecimento de educação e ensino
  • Grupo II – Caraterização geral
  • Grupo III A – Segurança – meio envolvente próximo (até 200m)
  • Grupo III B – Segurança – recinto escolar e espaço de jogo e recreio
  • Grupo III C – Segurança – edifício escolar
  • Grupo III D – Segurança – zona (s) de alimentação coletiva.
  • Grupo IV A – Higiene e Saúde – meio envolvente próximo (até 200m)
  • Grupo IV B – Higiene e Saúde – recinto escolar e espaço de jogo e recreio
  • Grupo IV C – Higiene e Saúde – edifício escolar
  • Grupo IV D – Higiene e Saúde – zona (s) de alimentação coletiva

      Convém referir ainda, que para a realização desta vistoria foi necessário um suporte legislativo de acordo com o estabelecimento de ensino a avaliar, nomeadamente: Portaria nº 262/2011, de 31 de Agosto, que estabelece as normas reguladoras de instalação e funcionamento de creches e o Decreto-Lei nº119/2009, de 19 de Maio, que estabelece as condições de segurança a observar na localização, implantação, conceção e organização funcional dos Espaços de Jogo e Recreio, respetivo equipamento e superfícies de impacte.
       Finalizada a vistoria, a checklist foi preenchida e submetida na plataforma online de saúde escolar da Direção Geral de Saúde (DGS). Posteriormente, foi realizado o relatório da vistoria, onde foram descritas as observações relevantes e as medidas propostas para corrigir as anomalias detetadas. De seguida apresento um exemplar da checklist utilizada:  






Figura 1- Exemplo da checklist utilizada
                  Fonte: Circular Normativa nº7/DSE de 29/06/2006

     De acordo com os indicadores do Plano Nacional de Saúde 2004-2010, no que diz respeito às condições de segurança, saúde e higiene dos estabelecimentos de educação e ensino, verificou-se que no período de 2002/2003 a 2004/2005 a percentagem de escolas abrangidas pelo programa da Saúde Escolar que foram avaliadas, quanto às condições de Segurança, Higiene e Saúde, subiu de 64% para 67%. Em 2004/2005, foi possível observar também que a percentagem de escolas que foram avaliadas era superior a 60% nas Regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo, sendo as percentagens mais reduzidas nas Regiões do Sul de Portugal.
Figura 2 - Valor Percentual de escolas com avaliação das condições de segurança, higiene e saúde nas escolas (do ano 2003/2004 até 2008/2009)
Figura 3 - Valor Percentual de escolas com avaliação das condições de segurança, higiene e saúde nas escolas, por regiões de saúde
Figura 4 - Valor Percentual de escolas com boas condições de segurança e higiene do meio ambiente, por regiões de saúde
Figura 5 - Valor Percentual de escolas com boas condições de segurança e higiene do meio ambiente (do ano 2004/2005 até 2008/2009)
De um modo geral, entre 2004/2005 e 2008/2009, mais de 60% das escolas que foram avaliadas relativamente às condições de segurança e higiene do meio ambiente obtiveram uma classificação favorável. Nas Regiões Centro e Algarve o panorama manteve-se ou melhorou, no período analisado (71% e 75%, respetivamente, em 2008/2009), contudo em Lisboa e Vale do Tejo observou-se uma tendência oposta, baixando para 66% a percentagem de escolas com boas condições de segurança e higiene do meio ambiente, no conjunto das escolas avaliadas em 2008/2009.  

Após à análise dos dados acima mencionados, é de salientar o trabalho e o esforço que tem vindo a ser desenvolvido por parte das equipas de saúde escolar no sentido de alcançar as metas inicialmente propostas no que se refere à manutenção de um ambiente escolar seguro e saudável. No entanto, na minha opinião, penso que seria benéfico envolver toda a comunidade educativa desde pais, professores, auxiliares de ação educativa nas equipas de saúde escolar, de forma a que estes também desenvolvam um papel ativo na promoção e educação para a saúde junto dos alunos, reforçando desta forma a ação das equipas de saúde escolar através da partilha de competências e conhecimentos, pois só uma ação interdisciplinar e intersetorial envolvendo os vários setores da comunidade, tornando-se estes agentes construtivos e promotores da educação em saúde, permitirá a potencialização da saúde de crianças e jovens, que contribuirá para ganhos em saúde, a médio e longo prazo, pois como refere o Ministério da Saúde, 2006: " Para que a educação para a saúde seja a realidade que todos pretendemos, é importante criar consensos e parcerias sólidas que advoguem um trabalho em rede e permitam organizar equipes multiprofissionais responsáveis pela implementação do Programa Nacional de Saúde Escolar. Destas parcerias devem fazer parte a escola, os serviços de saúde, as associações de pais, as autarquias, a segurança social, todos os setores da sociedade que trabalham com crianças e jovens que devem ser elas próprias veículos promotores do crescimento e desenvolvimento saudável."

Até à próxima publicação.

Ana Machado

Fontes Bibliográficas:
Circular Normativa nº 7/DSE, de 29/06/2006:
- Decreto-Lei nº 117/1995, de 30 de Maio:
- Decreto-Lei nº 119/2009, de 19 de Maio:
             http://dre.pt/pdf1s/2009/05/09600/0319103202.pdf
- Plano Nacional de Saúde 2004-2010:
http://impns.dgs.pt/saude-escolar
- Portaria nº262/2011, de 31 de Agosto:
             http://www.dre.pt/pdf1s/2011/08/16700/0433804343.pdf

sábado, 12 de outubro de 2013

Colheita de Amostras de Água para Hemodiálise

Pacientes em tratamento por hemodiálise são expostos a volumes de água que variam entre 18.000 a 36.000 litros/ano. Portanto, se a água não for corretamente tratada, vários contaminantes poderão ser transferidos para os pacientes, levando ao aparecimento de efeitos adversos, muitas vezes letais. "

Silva et al, 2007

     Estimados leitores, ainda no âmbito da temática sobre águas, hoje irei falar sobre algo extremamente pertinente que consiste na realização de colheitas de amostras de água utilizada no tratamento de hemodiálise. Atualmente, a hemodiálise constitui a terapêutica renal mais utilizada por parte das pessoas que sofrem de insuficiência renal crónica, fazendo desta forma com que as unidades de hemodiálise sejam por vezes o único recurso que permite garantir alguma qualidade de vida a estes utentes. Assim sendo, torna-se urgente e necessário ter em atenção os potenciais perigos e riscos para a saúde que podem surgir devido a possíveis contaminações da água utilizada, pois caso não se garanta a qualidade da mesma, poderão ser transferidos para a corrente sanguínea dos doentes vários tipos de contaminantes sejam eles químicos e/ou bacteriológicos, originando efeitos adversos e até mesmo letais, constituindo assim um problema de saúde pública. 
     De forma a assegurar um nível de qualidade da água que não comprometa a saúde dos utentes, quer sob a forma de acidentes agudos quer crónicos, o Despacho nº 14391/2001 (2ª Série), prevê que sejam realizadas periodicamente análises físico-químicas e microbiológicas. Esta periodicidade inclui determinações diárias, semestrais e anuais. No que diz respeito ao técnico de saúde ambiental, este atua na vigilância da qualidade destas águas, de forma a que estas preencham os requisitos que garantam a sua utilização na hemodiálise.

    Durante a primeira semana de estágio, foi-me possível observar uma colheita de amostras de água para hemodiálise, algo que gostei bastante pois nunca tinha tido a oportunidade de assistir a este procedimento. A colheita de amostras de água foi realizada em dois pontos, sendo um no depósito da água da rede, ou seja, antes de sofrer qualquer tipo de tratamento (osmose inversa, filtração, entre outros), e outro já depois da água ter percorrido todo o circuito de tratamento (água preparada para a hemodiálise).

       No quadro I e II são apresentados os parâmetros, segundo o Despacho nº 14391/2001, que devem ser monitorizados na colheita de amostras de água para hemodiálise.

Quadro I - Parâmetros físico-químcos a monitorizar
Quadro II - Parâmetros microbiológicos a monitorizar
    Segue-se então o procedimento passo-a-passo de como deve ser realizada a colheita de amostras para análise microbiológica:
  1. Desligar o ar condicionado para evitar a contaminação da amostra com microrganismos provenientes do mesmo;
  2. Vestir a bata e calçar as botas descartáveis;
  3. Colocar a máscara e luvas;
  4. Colocar isopropanol a 70% numa compressa e desinfetar a torneira;
  5. Abrir a torneira, e com escoamento prévio, encher o frasco de 1 Litro, junto da torneira, sempre com o interior da tampa virado para baixo;
  6. Fechar o frasco junto da torneira e seguidamente fechar a torneira;
  7. Identificar a amostra e colocá-la na mala térmica;
  8. Retirar as luvas e a máscara;
  9. Medir os parâmetros de campo: pH, temperatura e cloro residual livre;
  10. Preencher a requisição de análise da água.

     É importante salientar que segundo o Manual de Boas Práticas de Hemodiálise a concentração máxima admitida de cloro residual livre é de 0,5 mg/L, sendo a concentração ótima a mais próxima de 0 mg/L.

Figura 1 - Desinfeção da torneira com Isopropanol a 70%
Figura 2 - Colheita da amostra
Figura 3 - Identificação do frasco da amostra

    Para finalizar, considero que a vigilância deste tipo de águas é indispensável para a promoção da saúde da população em especial para os utentes que frequentam unidades de hemodiálise na medida em que uma monitorização periódica e eficiente vai permitir garantir uma água de qualidade nos tratamentos de hemodiálise, promovendo assim a satisfação e a saúde dos próprios doentes. Um reflexo da importância desta vigilância foi o acontecimento trágico que aconteceu há uns anos atrás numa unidade de hemodiálise do País em que alguns doentes hemodialisados morreram devido ao fato de água utilizada no tratamento estar contaminada, apresentando níveis de alumínio bastante elevados: "O "caso do alumínio" ficou marcado pela morte de 25 doentes da Unidade de Hemodiálise do Hospital Distrital de Évora. As análises realizadas em 1993 revelaram altos teores de alumínio no sangue. A situação foi explicada pela má qualidade da água, justificada pelo então presidente da câmara Abílio Fernandes com a situação de seca que se vivia, e ainda pelo mau funcionamento dos filtros do sistema de osmose inversa instalado na estação de tratamento de águas do hospital, para retirar o excesso de alumínio." (excerto da notícia publicada no jornal Público)

    Contudo, infelizmente nem só em Portugal ocorreram intoxicações de pacientes sujeitos a hemodiálise devido a um inadequado sistema de tratamento da água e/ ou inexistência de monitorização regular dos parâmetros de qualidade da mesma. De acordo com o artigo Human Fatalities from cyanobacteria: chemical and biological evidence for cyanotoxins, publicado em 2001, no início de 1996, 123 pacientes renais crónicos, após terem sido submetidos a sessões de tratamento de hemodiálise numa clínica em Caruaru (Pernambuco), começaram a apresentar um quadro clínico compatível com uma grave insuficiência hepática, que no entanto não foi correlacionada com nenhum dos fatores usualmente tidos como causadores deste tipo de intoxicações. (Jochimsen et al, 1998) Do total de doentes, 54 vieram a falecer até cinco meses após o início dos sintomas com o chamado "Síndrome de Caruaru", sendo que de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado de Pernambuco, a água utilizada na referida clínica provinha de camiões tanque da estação de tratamento de água municipal, devido ao período de seca que se verificou nesse verão, não tendo recebido um tratamento completo, nem uma vigilância adequada.
   As análises realizadas na Wright State University-Ohio, confirmaram a presença de cianobactérias no carvão ativado utilizado nos sistema de purificação da água da clínica, bem como em amostras de sangue e fígado dos pacientes intoxicados (Azevedo,1996; Carmichael et al, 1996), simultaneamente as amostras efetuadas ao reservatório de água que abastecia a cidade, demonstraram a presença de vários géneros de cianobactérias.


Figura 4 - Concentração de Fitoplâncton e Cianobactérias na água bruta, na Cidade de Caruaru, antes de 1996 (figura acima), durante o primeiro semestre de 1996 (figura abaixo)
Figura 5 - Concentração de Fitoplâncton e Cianobactérias na água  distribuída para os Centros de Diálise, na Cidade de Caruaru, antes de 1996 (figura acima), durante o primeiro semestre de 1996 (figura abaixo)
      Em breve irei fazer mais uma nova atualização no blogue, expondo mais uma temática abordada durante esta primeira semana de estágio!

     Ana Machado

     Fontes Bibliográficas:
     - Despacho nº 14391/2001 (2ªsérie), de 10 de Julho:
     - Manual de Boas Práticas de Hemodiálise:
      http://www.spnefro.pt/noticias/PDFs/2006_noticia_02_anexo_II.pdf
      - Jornal O Público:
      Human Fatalities from cyanobacteria: chemical and biological evidence for    cyanotoxins. W W Carmichael, S M             AzevedoR J MolicaE M JochimsenS LauK L    RinehartG R Shaw andG K Eaglesham, 2001: